Sleeping Dogs é um jogo de acção em terceira pessoa, desenvolvido pela Unity Front Games e publicado pela Square Enix.
Seguimos a história de Wei Shen, um nativo de Hong Kong que regressa à sua cidade natal, após ter estado nos Estados Unidos. Wei é um agente da polícia de Hong Kong que está responsável por se infiltrar no grupo Sun On Yee – a tríade mais influente na região – e recolher provas suficientes para acabar com as suas actividades criminosas. O problema é que Wei tem passado com algumas pessoas, agora membros deste grupo, o que por vezes não permite que não se deixe afectar pelas ordens dos seus superiores nas forças policiais e que, lentamente, o leva a perder algum controlo sobre ambas as frentes. Tudo isto resulta num enredo que demora um pouco a desenvolver, começa a ganhar grandes proporções e, no final, não aproveita toda a fasquia que criou e acaba por não satisfazer completamente.
Tal como referido acima, a história de Sleeping Dogs tem um começo um pouco lento. Após se infiltrar na Tríade, Wei tem de completar tarefas não muito interessantes, que são iguais a muitas outras missões de outros jogos em mundo aberto – Ir do ponto A ao ponto B, falar com alguém que deve algo à Tríade e que acaba quase sempre por fugir, perseguir o alvo em questão e finalmente ter um segmento de combate em que finalmente a pessoa acaba por ceder; isto não é necessariamente um ponto que retire louvor à experiência, já que permite a familiarização às mecânicas de combate corpo-a-corpo, mas o enredo simplesmente não avança o suficiente até chegarmos a metade da campanha. Porém, após esse ponto, a história foca-se muito mais e torna-se muito mais agradável – infelizmente, esta está repleta de personagens que são maioritariamente estereótipos e é muito previsível. Mesmo assim, existem algumas personagens que são excepções e algumas das missões antes do final são épicas e cheias de acção, destruição e puro divertimento. Infelizmente, o jogo parece nunca ter a coragem de nos fazer escolher lados e parece estar constantemente a jogar pelo seguro. É de lamentar já que há muito (e bom) build-up para pouco pay-off. Em relação ao desenvolvimento de personagens, Wei é o único a recebê-lo. Isto leva a que a maioria das outras personagens nos sejam indiferentes e pouco memoráveis. O pior deste exemplo, são mesmo os “romances” que vão surgindo na história; em vez de se focar em apenas um deles, Wei tem cerca 5 romances que acontecem sem o controlo do jogador, ou seja, após algumas missões com ditas personagens, estas nunca voltam a aparecer e são representadas como absolutamente descartáveis, cujo sentido é revelar os collectibles no mapa. A primeira destas personagens é-nos trazida por Emma Stone e é possivelmente a mais interessante, já que é a primeira com que Wei se depara e existe a expectativa de que a relação entre os dois se torne em algo mais e que tenha impacto na história – mais uma vez, existe potencial mas parece que faltou convicção para tomar certas decisões mais arriscadas que iriam servir para diferenciar Sleeping Dogs de outros jogos em mundo aberto.
Graficamente, Sleeping Dogs é inconstante. Por um lado temos adições gráficas (desfoque de imagem, por exemplo) nas perseguições de alta velocidade que, juntamente com efeitos sonoros conseguem envolver-nos na acção, as animações de Wei, fora das cutscenes, parecem naturais e, em geral, o jogo representa a cidade de Hong Kong de uma forma convincente – as ruas estão repletas de publicidade, sinais néon e movimento. Por outro lado, os modelos dos cidadãos repetem-se imenso (passamos pelas mesmas pessoas várias vezes), as animações durante as cutscenes são pouco naturais e existe texture pop-in constante. Para finalizar este ponto, Sleeping Dogs está extremamente mal optimizado. Mesmo quando jogado em settings máximos num PC que não deveria ter qualquer tipo de problemas em correr o jogo, este sofre constantes baixas de FPS e, o pior de tudo, crashes aleatórios e bem frequentes. Após pesquisa, o problema de optimizações é bem documentado em fóruns.
Em termos de som e dobragem, Sleeping Dogs é predominantemente bem sucedido.
A maioria das personagens tem um bom actor, capaz de transmitir pelo menos o mínimo de sentimento expectável ao seu papel e apenas algumas personagens soltas e secundárias são pior conseguidas – estas estão directamente relacionadas com o único problema do voice-acting: é intencionalmente foleiro e estereotipado. Mais evidente em personagens menos importantes, mas também esporadicamente presente na história principal, este factor leva a que nenhum tipo de investimento emocional seja criado.
Os efeitos sonoros são muito bem conseguidos e permitem a imersão na experiência. São muito satisfatórios – desde o combate corpo a corpo em que cada soco parece real e cada corte e arremesso com diversas armas tem um toque visceral, ao som ensurdecedor das armas de fogo.
A música não é particularmente memorável mas serve para a atmosfera que o jogo pretende criar. Existem algumas faixas da banda sonora que ficam na memória e que são bastante agradáveis. Porém, existem outras que são absolutamente estridentes. O jogo permite ouvir várias estações de rádio e o jogador pode mudar a qualquer momento – o problema é que o jogo não informa desta possibilidade e, no meu caso, passei a maioria do jogo com uma das piores estações. Sempre que uma faixa de música, destas ditas estações, não toca completamente, reinicia – como os segmentos de condução são sempre mais pequenos que uma faixa completa de música, está-se constantemente a ouvir a mesma coisa. Creio ter passado 20% do meu tempo com Sleeping Dogs a ouvir esta faixa:
No que toca à jogabilidade, pode-se afirmar que é um ponto forte desta experiência. O gameplay não foge muito à regra geral de jogos de mundo aberto como GTA ou Saints Row, apresentado os mesmos segmentos; porém, existe o foco no combate corpo a corpo, o que diferencia Sleeping Dogs de todos os outros.
O combate corpo a corpo pode parecer um pouco rígido ao início, mas o jogador é constantemente obrigado a lidar com inimigos desta maneira, o que leva a que, mais tarde ou mais cedo, fique proficiente e pronto para lidar com qualquer tipo de situação. Mesmo assim, o combate nunca fica extremamente monótono ou repetitivo; apesar de sermos confrontados desde cedo pelos mesmos 3 tipos de inimigos, os golpes e combos que se podem realizar são extremamente gráficos e satisfatórios. Wei tem à sua disposição vários tipos de habilidades que vão desbloqueando com o decorrer da história, mas também outras que apenas desbloqueiam com a entrega de certos collectibles; são habilidades continuamente mais complexas – mas não necessárias – que permitem ao jogador experimentar novas abordagens ao combate. Existe a possibilidade de executar um counter de modo a bloquear a maioria dos ataques dos inimigos, porém, além de não responder correctamente algumas das vezes, é uma técnica que pode ser explorada – utilizando-a de uma maneira seguida, o jogador irá, eventualmente, ganhar o combate sem qualquer tipo de problemas e esforço. Wei é também capaz de executar inimigos com objectos no cenários; isto permite ainda mais diversidade no combate – desde utilizar facas ou barras de ferro, a atirar inimigos de varandas ou até mesmo para um tanque de enguias eléctricas.
O combate com armas de fogo é um pouco genérico, tendo problemas evidentes de câmara e AI. Muitas vezes, deparamos-nos com inimigos quase colados a nós e sem qualquer tipo de perseverança pessoal e a câmara tem tendência a tomar decisões sozinha. Mesmo assim, as armas não são uma parte muito explorada no jogo, o que leva a que estes pequenos problemas não sejam muito incómodos.
A condução é talvez a parte mais satisfatória de Sleeping Dogs, mesmo sendo um pouco diferente da maioria dos jogos deste género, a maioria dos veículos não possuem grande sensibilidade de direcção a alta velocidade, permitindo fazer curvas precisas sem perder o controlo. Existem vários modelos de viaturas à disposição e o jogador pode até comprar o modelo que preferir e ter acesso a dito veículo sempre que se dirige a uma garagem, ao invés de ter de o encontrar espalhado pela cidade. O controlo destes veículos é surpreendentemente bom e apenas se torna mais complicado em veículos mais rápidos; mesmo assim, nunca parece injusto e é apenas uma questão de adaptação. A parte mais satisfatória, vem quando o combate se junta à condução. É possível realizar disparos enquanto se conduz e também roubar outros carros em andamento, realizando um high speed hijack. Todos estes momentos são acompanhados por um excelente slow motion e algumas explosões. Também existe a possibilidade de abalroar outros carros e abandonar o veículo a alta velocidade. Existem apenas dois pequenos problemas que são evidentes; os veículos em que Wei se encontra, são praticamente indestrutíveis – isto leva a que o jogador possa receber quantidades enormes de dano e nunca mude de veículo, o que a meu ver é um pouco irrealista – e a câmara é horrenda em espaços mais pequenos, chegando a ser preferível sair da viatura e arranjar outra.
Existem ainda algumas outras actividades que Wei pode realizar, mas estas estão extremamente mal conseguidas.
O jogador pode apostar em lutas de galos que consistem apenas em apostar em A ou B e esperar que a animação da luta acabe, o que por vezes pode demorar vários minutos já que os modelos das aves tendem a fugir em direcções opostas aleatoriamente. Outra actividade é uma espécie de Mahjong que tem um nível tão elevado de luminosidade que nem alterando a mesma nas opções me permitiu ver as peças – mais uma vez, bem documentado em fóruns. Outras actividades consistem em aceder a câmaras de vigilância, abrir cofres e, até mesmo, cantar Karaoke – esta última é relativamente cómica a primeira vez que se experimenta mas torna-se apenas uma tarefa que testa a paciência mais tarde. A única actividade que é mais satisfatória são as corridas que estão espalhadas pela cidade; geralmente são muito renhidas e permitem ao jogador aceder a carros mais rápidos – por outro lado, o jogador é posto numa desvantagem enorme na maioria das situações.
A cidade em si, também revela alguns problemas de acesso; para visitar alguns locais, é necessário aceder a auto-estradas, o que requer uma condução super monótona durante 3 ou 4 minutos – as saídas para a cidade são muito dispersas, o que não permite sair destas estradas sempre que se quer, já que estão sempre rodeadas de barreiras para não permitir a saída (já que a auto-estrada global não é nada mais do que uma gigante plataforma ao redor da cidade, quase sem saídas, a uma grande altura do solo e rodeado por maioritariamente água). Felizmente, existem táxis de preço acessível que permitem rápido acesso a pontos que fiquem bem mais próximos dos locais de destino.
Apontamentos a retirar
Sleeping Dogs é um jogo com boas ideias e medíocre execução. A história demora algum tempo a desenvolver e tem um final um pouco anti-climático, as personagens não são particularmente memoráveis – à excepção de Wei Shen – e as actividades fora da história são um desastre. Por outro lado, apresenta alguns momentos de acção brilhantes, um elenco de actores de voz capaz e, finalmente, um jogabilidade extremamente bem conseguida e que salva o jogo de não ser memorável. Um jogo que aconselho adquirirem, mas não sem estar com um belo desconto.
Nota Final: 7/10
Sleeping Dogs tem também 2 DLCs de história que se chamam Nightmare in North Point e The Year of the Snake.
Nightmare in North Point é uma espécie de paródia aos filmes de terror, que insere as personagens de Sleeping Dogs numa história que envolve zombies e demónios.
É um DLC muito curto que conta uma história que não pretende ser levada muito a sério e que tem uma abordagem mais descontraída e cómica, em comparação com o jogo original. Porém, além de pequeno, este DLC torna-se demasiado repetitivo, acabando por não ser mais chato que agradável. Falamos de cerca de 90 minutos de história e outro 30 para encontrar collectibles. A maioria da jogabilidade foca-se, mais uma vez, no combate corpo a corpo e na condução, mas as missões são apenas guiar de A para B e derrotar alguns inimigos, do início ao fim. Tentaram inserir uma nova dinâmica de combate – inimigos que apenas são derrotados com certas habilidades ou certas armas – mas esta é tão usada que o elemento de surpresa perde-se bem antes de se acabar o DLC.
De momento, encontra-se a 7 euros na Steam – demasiado caro para um DLC que não mostra nada de novo e que, mesmo tendo uma vertente mais cómica, não tem qualquer impacto na história do original.
Nota: 5/10
The Year of the Snake é o segundo DLC, que nos conta uma história um pouco mais séria, que se passa depois dos acontecimentos da jogo original – Wei foi despromovido (dada toda a destruição que causou) e realiza agora tarefas relativamente menos interessantes das que realizou anteriormente; porém isso muda rapidamente.
Este DLC também é muito pequeno, mas tem a particularidade de nos permitir experienciar Wei como polícia já assumido, não infiltrado. Começamos com rondas e detenções simples, mas após um acidente de carro, descobre-se que o condutor faz parte de um culto que pretende causar grande destruição com bombistas suicidas nas ruas de Hong Kong na passagem de ano. Cabe-nos então encontrar o líder desse culto e minimizar o terror espalhado pela cidade.
É evidentemente mais cuidado do que o DLC primeiramente mencionado; temos acesso a um taser, que é bastante cómico de utilizar, podemos realizar detenções, algemar culpados (e até mesmo inocentes) e fazemos parte das forças de segurança contra as revoltas dos civis, com vários aliados. Existem também novas viaturas com um design fantástico e acesso a armas de fogo mais pesadas.
De momento encontra-se a 5 euros na Steam; mesmo sendo melhor do que o outro DLC, este não justifica o preço, a menos que se encontre com desconto.